Li recentemente 19/03/2013
Posted by Maria Elisa Porchat in Atualidades, Literatura.Tags: envelhecimento, Fazes-me Falta, Inês Pedrosa, Jane Fonda - O Melhor Momento, Raduan Nassar, Um Copo de Cólera
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Gostei, mas é preciso uma reserva de oxigênio para ler Um Copo de Cólera do Raduan Nassar. Cada capítulo tem um só período com um ponto final. Pensar que reclamávamos do Saramago! A narrativa acompanha em ritmo a explosão de fúria de um casal, depois de uma noite de sexo. Nassar usa uma linguagem contundente para narrar um conflito aparentemente banal, que chega a tornar a convivência insuportável. Atrás da guerra verbal, aparecem as contradições culturais, amorosas e subjetivas do casal.
Fazes-me Falta da jornalista Inês Pedrosa, autora que tive o privilégio de conhecer em Paraty, também exige disposição por parte do leitor, dada a complexidade do texto e do relacionamento mostrado. São monólogos alternados de uma morta e do companheiro, pensamentos profundos sobre afetos, morte e a dor da perda. Tocou-me especialmente este: “e deslizo para esta solidão demasiado humana de não poder voltar a ser sozinho, como era quando tu existias nesta mesma cidade, e eu já nem sequer pensava em ti”.
Jane Fonda – O Melhor Momento tem que estar na mesa de cabeceira de quem passou dos 60 e decidiu pendurar a chuteira. Em resumo, o seguinte: pare de lamentar a juventude perdida e assuma o comando para enfrentar bem as mudanças da idade e tirar proveito da vida nessa fase. São conselhos detalhados sobre saúde, estilo de vida, sentimentos, espiritualidade e autoconhecimento.
Feio – feiinho 05/03/2013
Posted by Maria Elisa Porchat in A Língua Portuguesa Adequada.Tags: Academia Brasileira de Letras, diminutivos, linguagem formal, linguagem popular, sufixo
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Uma amiga me perguntou o diminutivo de feio, de cheio e de saia. Passei a bola para o pessoal do site da Academia Brasileira de Letras que prontamente me respondeu: “grafe feiinho, cheiinho e sainha ou saiote”. A amiga rebateu que não fazia sentido a formação do diminutivo de saia ser diferente da formação de diminutivo de cheia. Aí foi minha vez de cortar a bola: “quem disse que é tudo lógico e que há regras fixas na nossa língua? As palavras seguem o rumo que ao longo do tempo, os usuários da língua lhe impõem.”
Na linguagem formal, palavras que terminam nos ditongos io ou ia, quando flexionadas, sejam no superlativo absoluto sintético, seja no diminutivo, repetem o i na flexão: sério, seriíssimo.
Entretanto, formas diminutivas são correntes na linguagem popular e emotiva, exprimindo carinho, descontração e aí o que prevalece é a tendência dos falantes.
Praia, por exemplo, é prainha, rádio é radinho, saia é sainha. Já pensou em falar – saiinha? Que língua é essa?
Os sufixos mais comuns de diminutivos são inho ou zinho. Você pode falar saiazinha também, ou, no caso, usar o sufixo ote – saiote, aí já com um sentido um pouco diferente.
A língua é mais complexa e flexível do que imaginamos.
O Direito dos Avós 13/11/2012
Posted by Maria Elisa Porchat in Atualidades, Diversos.Tags: convívio com avós, direito de família, Edgard de Moura Bittencourt, novo Código Civil, Visita aos netos
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Quase 30 anos depois que meu pai Edgard de Moura Bittencourt morreu, é um orgulho ler uma frase do jurista que foi, encabeçando uma matéria do Estadão, sobre a lei que assegura aos avós o direito de ver os netos.
Uma lei nesse sentido foi sancionada no ano passado. Antes dela, nas ações movidas por avós, frequentemente era citado seu livro Família, que trata do direito de visita aos netos, entre outras questões de jurisprudência.
Está lá: “A afeição dos avós pelos netos é a última etapa das paixões puras do homem. É a maior delícia de viver”.
“Quando há uma separação, os filhos ficam com um dos cônjuges, que muitas vezes chega a privar seus filhos do afeto dos avós.”
“Muitas vezes manter esse convívio ajuda uma criança a atenuar o vazio sentimental”.
Mas consta no livro a ressalva: “cada caso deve ser examinado com prudência, porque pode haver avós indignos de semelhante faculdade, como também circunstâncias peculiares, que podem justificar a suspensão das visitas. Portanto, é quase dispensável observar que o direito dos avós está condicionado ao interesse da criança”.
Meu pai como juiz e jurista esteve muitos passos adiante do seu tempo. Jovens advogados de família testemunham a importância ainda hoje de seus livros em questões familiares, como o divórcio, concubinato, guarda de filhos, idéias precursoras das mudanças trazidas mais tarde, pelo novo Código Civil.
O domínio da língua 09/10/2012
Posted by Maria Elisa Porchat in A Língua Portuguesa Adequada.Tags: estrutura da frase, exercício da cidadania, língua falada e escrita, libertação
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Falar o português adequado é uma necessidade, não só para o relacionamento pessoal, mas para o exercício da cidadania. Possibilita que o cidadão exponha adequadamente seu pensamento e que compreenda aquilo que ouve e lê, ampliando sua capacidade de agir dentro da sociedade.
Alguns questionam a utilidade do conhecimento teórico da língua; na escola, alunos arrancam os cabelos com o estudo de análise sintática. Porém, conhecer a estrutura de uma frase ou de um discurso permite ao comunicador estruturar e expressar o seu próprio pensamento.
A preocupação com o português adequado não deve ser uma mordaça que cale por inibição quem fala ou escreve. É o contrário. O estudo mostra o conhecimento das possibilidades de expressão e leva à constatação de que dominar a língua é usá-la com desembaraço, fluência e clareza; é empregar a linguagem certa para cada situação e público. Um deslize no português não causa dano num bate-papo de amigos, mas chega a ser catastrófico numa reunião profissional e mais ainda num relatório escrito.
Língua escrita e língua falada têm seus recursos próprios na elaboração de mensagens.
A falada atende às necessidades práticas do cotidiano, é dinâmica, funcional, repetitiva, natural, espontânea, imediata, sonora, é acompanhada de gestos, entonação, ironia. Tem expressividade e vivacidade. Usa mais o discurso direto e expressões populares.
A linguagem escrita, mesmo a informal, incorpora preocupações estéticas e conta com menos tolerância dos gramáticos quanto à desobediência de regras. A distinção não é rígida. Há quem escreva com observância rigorosa das normas e os que escrevem de forma coloquial. Mas tanto na língua falada como na escrita o indispensável é transmitir a comunicação de forma clara, forte, precisa, conveniente com o contexto e o propósito da mensagem.
O domínio da língua, para um indivíduo, significa desentrave, libertação e não opressão. A língua é um instrumento político.
Para ilustrar o post, minha prima Yara enviou a música Minha Pátria é Minha Língua do Caetano Veloso.
Saudade de Itanhaém 02/10/2012
Posted by Maria Elisa Porchat in Diversos.Tags: amizade, anos sessenta, férias, lembrança alegre, tamanco
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Quem não frequentou Itanhaém nos anos 60 não consegue imaginar o que aquele ponto do litoral paulista significou para a minha geração que hoje já tem netinhos.
Lá passei quase todas as férias da minha infância e adolescência. Nossa casa, com flamboyans e chapéus de sol, ficava num ponto estratégico: esquina de uma rua do centro histórico e comercial com uma avenida paralela à praia “da frente”. Sentados no muro da pérgula sempre florida, víamos de um lado o morro do convento, a cadeia tombada e o movimento da Prefeitura; de outro, o mar que, bem próximo, se unia ao rio Itanhaém, num encontro ao mesmo tempo atraente e perigoso para os banhistas.
A temporada começava sempre com um ritual: a compra do par de tamancos que fazia barulho nas calçadas e que só deixávamos de usar no último dia de férias. De lá, já íamos matar a curiosidade sobre os amigos que teriam chegado – amigos de outros verões, muitos deles se tornando amigos da vida inteira. Uma só turma se encontrava. Na praia pela manhã, à beira do rio no fim da tarde, nos passeios pela vila e nas serenatas na pérgula, comendo o pão quente da primeira fornada da padaria. Brincadeiras saudáveis, segurança, simplicidade, música, alegria.
Hoje no lugar da nossa casa florida há Casas Pernambucanas sem uma folha de árvore para contar história. As Havaianas (legítimas!) silenciaram as calçadas. As praias estão cheias e sujas. A cidade perdeu o charme e a tranquilidade. Só a alegria daquela geração não se perdeu. E quando a velha turma se reencontra, em outras praias, o assunto é sempre o mesmo: o privilégio de ter vivido as férias, ano após ano, de tamanco nos pés, em Itanhaém.
A superação do rádio 25/09/2012
Posted by Maria Elisa Porchat in Atualidades, Radiojornalismo.Tags: a chegada da televisão, a sobrevivência do rádio, aproximação com o ouvinte, melhora do som e do alcance
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Um internauta me procurou para um trabalho de faculdade de jornalismo, que tinha como tema, o futuro do rádio. Ainda tem quem duvide da sobrevivência desse veículo, depois de tantas provas de adaptação e superação. Nos anos 50, o rádio ficou realmente abalado com a chegada da poderosa televisão, que roubou a atenção das massas. Mas não levou muito tempo para o rádio correr atrás de fórmulas que explorassem as vantagens que tem como comunicador. Tanto no entretenimento quanto no jornalismo, firmou-se como o maior aliado do cidadão.
De uns anos para cá, temeu-se novamente sobre o destino do rádio, diante da internet e das constantes novidades da informática. E o rádio surpreendeu mais uma vez. Hoje ele tira proveito de todas as inovações, pra se modificar, se modernizar, para melhorar seu som, seu alcance e aumentar ainda mais seu poder de transmissão.
Vamos considerar as mudanças no radiojornalismo. A tecnologia trouxe mais agilidade ao veículo que já era o mais rápido tanto na busca quanto na transmissão das notícias. A internet leva a programação radiofônica ao vivo para todos os cantos do mundo. As redes sociais aproximam ainda mais o ouvinte, que passou a participar de várias formas da programação. Quanto ao celular, é ferramenta importante na interação com o ouvinte e na rapidez com que o repórter traz a informação da rua. A edição de reportagens hoje é feita pelo próprio repórter de forma imediata, com o auxílio de programas especiais de computadores. A tecnologia de transmissão acabou com o limite de alcance dos sinais sonoros.
O avanço tecnológico, portanto, não representa ameaça, mas riqueza de recursos que aperfeiçoam a comunicação radiofônica e ajudam o rádio a prestar serviços ao ouvinte. Nenhum veículo bate seu poder de resgate da cidadania.
Consogra e tetravô 11/09/2012
Posted by Maria Elisa Porchat in A Língua Portuguesa Adequada, Atualidades.Tags: corréu, Erros comuns, parentesco, prefixos co con com, trisavô
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Atenção, você que se refere à mãe do seu genro ou da sua nora como “minha cossogra”. Consogra é a palavra correta, embora igualmente feia. Trata-se do prefixo latino co ou com, que significa – em comum ou em conjunto. Em algumas palavras o prefixo é apenas co: Corréu (antes co-réu na velha ortografia) é um réu do mesmo processo que outra pessoa; coerdeiro,( antes co-herdeiro ) é aquele que herda junto com outros; existe coirmão, mas no caso de sogro e sogra o prefixo é con para designar o pai ou a mãe de um dos cônjuges em relação ao pai ou à mãe do outro.Assim também formou-se a palavra consócio ou mesmo compadre.
Mas convenhamos, se sogra já não é das palavras mais bonitas, consogra é horrenda. Prefira – mãe do genro ou sogra da minha filha.
Outra impropriedade comum no campo dos parentescos, é em relação a tataravô, comumente confundido com trisavô. O pai do avô é o bisavô. O pai do bisavô é o trisavô. E o pai do trisavô é o tetravô que tem como forma popular tataravô.
Portanto é impossível alguém ter tataravô vivo. É figura que existe apenas nas fotos e na memória familiar. Com neto a mesma coisa – bisneto, trineto e tetraneto, popularmente tataraneto.
Autoestima em baixa nas vitrines 04/09/2012
Posted by Maria Elisa Porchat in A Língua Portuguesa Adequada, Atualidades, Diversos.Tags: anúncios em inglês, campanha de valorização da língua, orgulho da pátria, tomada de consciência
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Quase choro de desgosto quando vejo uma loja brasileira anunciar liquidação assim: “Save up to 40% off. Winter special sale”. Gente! Onde nós estamos mesmo?
Assim uma bela loja de cama, mesa e banho atrai o público, nos jornais e nas vitrines, em letras imensas. Não se trata de um caso isolado É só passear pelos shoppings da cidade e constatar que para fazer bonito o lojista prefere usar o inglês nas suas propagandas. No recém-inaugurado Shopping JK, um estabelecimento prestes a abrir suas portas escreveu numa parede provisória: “Opening soon”.
Quando é que o comércio chique no Brasil vai usar a língua portuguesa no lugar do inglês sem medo de rebaixar o status dos seus produtos? É claro que o problema não está na nossa bela língua. Nem o português fica ameaçado com essa mania boba de se apelar para a língua inglesa para dar um ar de primeiro mundo ao comércio, ou talvez para fazer o consumidor fantasiar que está em Orlando ou em Nova Iorque. O que me dá desgosto é que se trata de mais um sintoma de pouca autoestima do brasileiro.
Adiantaria começar uma campanha para acabar com essa macaquice de língua estrangeira? Não. A mudança de atitude não seria espontânea e acabaria sendo um item a mais na lista das atitudes politicamente incorretas, lista tão ridicularizada por ser desprovida de bom-senso. Pior: poderia acabar num projeto de lei radical no sentido de multar ou incriminar o comerciante que anunciasse a liquidação em inglês.
Campanha nesse sentido também estaria fadada ao fracasso porque os próprios publicitários simpatizam bastante com o uso de palavras estrangeiras desnecessárias na comunicação de propaganda.
O problema é mais profundo. Talvez psicólogos, sociólogos e antropólogos consigam explicar de onde vem o complexo de inferioridade manifestado pelo brasileiro de várias formas, inclusive no comércio de luxo.
Triste é saber que a mudança na linguagem das vitrines é demorada e incerta. Vai depender do progresso do Brasil em vários setores, sendo o da educação o principal deles. Quero crer que quando começarem a surgir índices positivos desse desenvolvimento, não só na economia, mas na saúde, nas instituições de ensino e na diminuição da criminalidade, o Brasil vai fazer bonito não só lá fora, como aqui, no conceito do cidadão brasileiro. Quando isso acontecer, certamente o comerciante de uma loja de luxo não precisará macaquear o lojista americano e anunciará sem acanhamento: “Breve inauguração” ou “Descontos de até 40 por cento”.
Sugestão de leitura 21/08/2012
Posted by Maria Elisa Porchat in Atualidades, Literatura.Tags: autobiografia, best-seller espanhol, ficção, literatura, romance policial, romance sobre guerra
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Li bons livros no semestre que passou. Gosto daqueles que me trazem prazer e conhecimento do mundo, da história e do homem. O Tempo entre Costuras, best-seller espanhol, primeiro romance de Maria Dueñas fez isso, contando sobre os bastidores da Guerra Civil Espanhola e da Segunda Guerra Mundial.
A Lebre com Olhos de Âmbar, autobiografia do ceramista inglês Edmund de Waal, me ensinou sobre arte em geral. Apresenta também a cultura japonesa e a perseguição aos judeus na Rússia e na Europa, no início do século passado, que culminou com os horrores da Segunda Guerra Mundial.
A Elegância do Ouriço, da francesa Muriel Barbery, achei espetacular. Demorou um pouco para me prender. Precisei recomeçar, é um livro que exige ser saboreado bem devagar,que alguns trechos sejam relidos, para entender a filosofia que sai da boca de uma concierge parisiense, de um cineasta oriental e de uma adolescente superdotada, num edifício chique francês. Em comum nos três personagens, muita cultura e sensibilidade.
Uma delícia foi ler o romance policial – O Rio e o Mar, de Miguel Reali Jr, cuja trama se passa em Itanhaém, cidade do litoral de São Paulo, onde eu passei grande parte da minha vida. É lá que acontecem os crimes que um delegado em início de carreira tem que desvendar. Revi nas páginas o Hotel Polastrini, a Praia do Sonho, a Prainha, e o encontro do rio e o mar.
Saindo da ficção, vale a pena ler A Soma e o Resto de Fernando Henrique Cardoso. Comprei o livro buscando uma autobiografia do ex-presidente e encontrei muito mais – o mundo, a América do Sul e o Brasil na visão de FHC, ao completar 80 anos.
Pós Flip 2012 07/08/2012
Posted by Maria Elisa Porchat in Literatura.Tags: Adonis, Carlos Drummond de Andrade, criatividade, definição de literatura, finitude
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A Festa Literária de Paraty no seu décimo aniversário teve como marca a criatividade na homenagem a Carlos Drummond de Andrade. Nos outros anos havia mais autores conhecidos do público nas mesas de debate, deixando a figura do homenageado meio de lado. Este ano, a todo momento éramos lembrados da magnitude da obra do Drummond, como poeta moderno e presente no cotidiano brasileiro. No início de cada palestra, qualquer que fosse o assunto, uma poesia do poeta mineiro era recitada com originalidade. Ora na voz do próprio autor, ora por um dos convidados da Flip ou até mesmo por um ator contratado. Emocionou ouvi-la vertida para a língua árabe, na voz do sírio Adonis. Sempre que a poesia era recitada, o texto original aparecia em dois telões, para ser bem entendida. Houve exposição de fotos e palestras sobre sua vida e sua obra e sobre as cartas à sua filha Julieta.
E das outras mesas, que não falavam de Drummond o que ficou na memória, um mês depois? A mesa “Escritas da finitude ” ainda martela na minha cabeça. Falou-se no que acontece no entorno da morte de alguém próximo e no quanto o desaparecimento de uma pessoa pode gerar de vida e renovação . “Enquanto não me esfarelo, me distraio”.
E para encerrar, uma definição de literatura mencionada na Flip :
“ A literatura é como um fósforo aceso num lugar escuro.O fósforo não vai iluminar o lugar, mas vai mostrar o quanto a escuridão existe”.