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Flipei de novo em 2015 07/07/2015

Posted by Maria Elisa Porchat in Atualidades, Diversos, Literatura.
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11693061_983041288381960_677781498_n Flipei de novo.Pela sétima ou oitava vez,  já perdi a conta. E a aqui vai minha costumeira peneirada, não se trata  de um resumo, mas de algumas  anotações  sobre a Festa Literária de Paraty.

Mário de Andrade tem um livro sobre uma expedição que fez e que foi tema de mesa – O Turista Aprendiz. Daí eu pergunto: não é   também  um turista aprendiz aquele que  frequenta a festa de literatura ? Porque tem interesse no que os autores convidados têm a dizer, mas também busca entretenimento, indo de um lado pra outro, da tenda pra Casa Folha, de lá pra Casa da Cultura, em seguida  aos musicais da Praça Matriz , não querendo perder nenhuma  mesa,  nem as  delícias da rua e da praia.

E o turista aprendiz sempre aprende. Fica sabendo  que um recepcionista de hotel em Paraty estranha quando um hóspede declara como profissão a de poeta,  que no entanto é um ofício que não dá descanso nem quando se dorme. Um trabalho que  exige rotina e disciplina.

Aprende que a literatura erótica mostra a precariedade humana e  que aqui no Brasil ela geralmente é de deboche, enquanto em outros países chega a ser trágica.

Que em relação ao luto, o esforço intelectual pode ajudar o sofredor e que o ato de escrever sobre a dor pode ser um dos caminhos para superar a perda da pessoa amada.

Fica sabendo a dimensão da força política de uma charge e que um desenho engraçado serve de  arma poderosa contra os opressores.

Que a alta matemática, não aquela que se aprende na escola, mas a dos sistemas complexos, tem beleza e dá prazer. Pode ser feita em qualquer lugar e em qualquer hora. Existem estereótipos e muita resistência do público  com respeito a essa área do conhecimento, conforme o depoimento dos premiados matemáticos que participaram da Flip.

Assustado,  o turista de Paraty toma conhecimento da situação complexa do narcotráfico no México, onde todas as áreas da sociedades estão corrompidas pelos cartéis de crime organizado numa rede complexa que une Europa, Estados Unidos e América Latina.

Aprende ouvindo a palestra do economista Eduardo Giannetti e do neurocientista Sidarta Ribeiro que estamos a caminho de entender a consciência, que existe sempre uma máquina biológica atrás da consciência e que somos sempre regidos por um mecanismo físico. Em certo momento Giannetti, que pesquisa as consequências éticas de nossas decisões e a origem da nossa consciência    lança  uma pergunta que fica sem resposta : o que fazer contra a crise civilizatória? Sobre a arte, Giannetti observa que ela tem que ser valorizada não do ponto de vista estético ou do entretenimento, mas do conhecimento humano e do reconhecimento de valores.

As historiadoras Lilia Schwarcz  e Heloisa Starling   que lançam  Brasil : uma biografia ensinam os curiosos da Flip que os sermões do Padre Vieira já falavam de corrupção  e que   a escravidão sempre foi o sistema estruturante na nossa história do Brasil, onde o racismo é dissimulado.

 

Foi oportuna a escolha do Mário de Andrade como homenageado, não só pelos 70 anos de sua morte, pela sua genialidade e por ser o mais atuante modernista , mas também por ter  valorizado as artes populares e  ter trabalhado na preservação do patrimônio cultural do território brasileiro.Dizia que o dia em que o Brasil olhasse para a arte popular seria um país melhor.Musicólogo, além de muito mais, ( ele mesmo escreveu Eu sou Trezentos, eu sou Trezentos e Cincoenta ) desbravou a música popular de raiz, os ritmos indígenas, as músicas africanas, os ranchos, as modinhas, as cirandas…. : a cara de Paraty.

A cidade de São Paulo esteve na berlinda nessa Flip numa pauta inspirada pelo livro Paulicéia Desvairada de Mário de Andrade. O historiador Bóris Fausto lembrou, saudosista e fazendo a plateia rir, da  São Paulo de antigamente, que em nada lembra a São Paulo de hoje, só melhorando no quesito – hospitais.

Uma  mesa  reuniu o jornalista Roberto Pompeu de Toledo que acaba de lançar mais um livro sobre São Paulo e Carlos Augusto Calil , autor de um livro a respeito do trabalho de Mário de Andrade no Departamento de Cultura da cidade. Falaram da época em que São Paulo era a capital da vertigem, do contexto da Semana da Arte Moderna de 22, dos salões literários e sobre a elite que se propunha a investir nas  necessidades de São Paulo, como na USP, no MASP, no MAM, na Bienal e até nos estúdios da Vera Cruz.

Na linha do pensamento de Mário de Andrade da cidade como território, o  antropólogo Antonio Risério e o poeta Eucanaã Ferraz debateram arquitetura e lamentaram que as grandes cidades hoje carecem de espaços de convívio e se caracterizam pela expansão,  segregação e a exclusão. O chão precisa ser compartilhável.  ”Não existe tragédia a caminho. A merda já aconteceu. Agora é remediar”.Para surpresa da plateia e de quem critica o Haddad na questão da ciclovia, o prefeito foi  elogiado por ser o primeiro a encarar o automóvel e a pensar na cidade do ponto de vista urbanístico.

Desvairada também começa a ficar   Paraty que, fora das festas,sempre foi pacata. Hoje sofre com registros  de violência,falta de infraestrutura   e vê seu patrimônio cultural e ambiental ameaçado.Uma passeata de moradores tomou conta da ponte no sábado, na frente da tenda, pedindo paz e segurança.

A crise política , como não poderia deixar de ser, surgiu em quase todas as conversas da Flip. Com muito mais perguntas do que respostas,  mediadores e plateia indagaram convidados sobre  o que vai acontecer  daqui pra frente e ninguém se atreveu a dar uma previsão. Houve  encontros  sobre política na Casa Folha .No primeiro, foram discutidas as razões da crise no governo Dilma. Por que degringolou ? O colunista Bernardo Mello Franco frisou as pedaladas nas contas públicas para disfarçar o desarranjo econômico e se reeleger. O coordenador nacional do MST ( Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto)  Guilherme Boulos,  depois de   atacar duramente o presidente da Câmara Eduardo Cunha por suas manobras políticas  para aprovar  projetos de seu interesse, criticou as estratégias do PT no governo e   o ajuste fiscal proposto  agora , penalizando o lombo dos mais pobres.

A Casa Folha também ouviu o cientista político Demétrio Magnoli sobre a situação do Brasil no cenário mundial. Ele criticou  o PT, Dilma e Lula por terem prometido um governo de ruptura com um regime social injusto e  ofereceu  um governo de restauração de uma política antiga, da era Vargas – patrimonialista , com um estado centralizador, apoiado por um grupo de empresários.Para ele,  a ruptura se deu com FHC. E agora, Magnolli, o que vai acontecer? Resposta : Não dá para saber.Ainda não apareceu nenhuma força política interessada em dialogar com a indignação popular.

Mas por que tanta política numa festa de literatura ? A  Flip sempre saiu do território literário para discutir assuntos diversos do interesse  público , tendo como critério a seleção de autores de bons livros. Mas neste ano viajou mais longe : falou de matemática, de neurociência, de narcotráfico e repito, muito de política.

Essa foi  a Flip da crise – a mundial com seus  conflitos, a brasileira que está num impasse , a de São Paulo desvairada e a de Paraty  insegura. Como afago, a poeta lisboeta Matilde Campilho que mora no Rio falou de poesia de um jeito que conquistou toda a Flip. Disse  que a crise vai passar mas até lá o caminho é de pedra. Mas se o mundo está arrebentado e o Brasil está arrebentado, na impossibilidade de salvá-los  sozinho, a poeta aconselha a  salvar cada momento, um minuto ou  segundo,  nos salvar e salvar  quem está do nosso lado.

Depois de ouvir a Matilde, ao turista aprendiz só restou ir à livraria  e comprar um livro de poesia. Que todos se salvem.

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Peneirada da Flip 2014 06/08/2014

Posted by Maria Elisa Porchat in Atualidades, Diversos, Literatura.
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IMG_1418-001 A Flip deste ano foi a cara do homenageado: cheia de humor,  irônica e contestadora. Por ser Millor Fernandes cheio de facetas e  extraordinário em todas elas, ele estava presente em quase todas as mesas literárias – no cenário das tendas, nas ilustrações, nas frases lapidares que introduziam os debates e nos temas da programação.

Duas mesas foram exclusivas para ele. A de abertura começou com o crítico Agnaldo Farias destacando o valor de Millor como artista plástico, pensador e artista da palavra. Em seguida, os humoristas Reinaldo, Hubert e o Jaguar  contaram sobre o convívio divertido com Millor na  época  das revistas Pifpaf e Pasquim. Ele fazia tudo em casa e só chegava na redação para conversar e atrapalhar o fechamento.

A segunda mesa, com o jornalista Sérgio Augusto e os caricaturistas Claudius e Cássio Loredano, destacou a integridade, a independência e a coragem do guru do Méier diante dos os militares. Millor abordava  qualquer tema através de paradoxos, pelo avesso, com liberdade, – “ o livre pensar é só pensar”.Vigiava a  coisa pública e denunciava maracutaias.  O Pasquim fazia resistência à ditadura e Millor só não foi preso porque era tão genial que desconcertava até os censores. ”A Justiça farda mas não talha.”   Brincava com a língua como ninguém  e mesmo ao desenhar, sempre começava com uma ideia verbal, numa combinação perfeita de desenho e palavra escrita.

Riu-se muito com o humor inteligente de Antonio  Prata e do paquistanês Mohsin Hamid.Falam com muita ironia  de si mesmos e do mundo.Para Prata, a literatura  mostra a vida como ela é; já a realidade é “fotoshopada” com as celulites que a vida tem. O Brasil tem mais a ver com o Paquistão do que com os Estados Unidos, pelo desconforto com a desigualdade social. Mohsin Hamid  no seus livros não quer “exotizar”, ser um paquistanês, mas escrever para algum leitor que com ele se identifique.Lançou na Flip – Como ficar podre de rico na Ásia emergente.

Uma mesa sobre poesia e prosa com Gregório Duvivier, Eliane Brum e Charles Peixoto também lembrou Millor, um poeta do humano.Para o humorista Duvivier, humor  e poesia são similares porque têm um olhar diferente sobre as coisas, subvertem as verdades estabelecidas e lembram que nada deve parecer natural.São formas de resistência.Duvivier tem duas coletâneas de poemas.

Segundo Charles Peixoto, sua poesia marginal carioca, de inspiração hippie sempre foi esculhambada pela crítica.Lançou na Flip o volume de obre reunida Supertrampo.

Sucesso na mesa fez a  repórter e poeta Eliane Brum. A leitura e a escrita a salvaram  de uma infância árida e triste. “ No processo de escrita fui possuída por mim mesma”.Deixando a plateia com a respiração suspensa, Eliane contou que nas reportagens da série A Vida que Ninguém Vê descobriu  poesia na fala dos entrevistados, linguagens que tinham que ser entendidas. “Uma  parteira é chamada para povoar o mundo, nas horas mortas da noite”, ouviu de uma entrevistada. Pura poesia  pela boca . Eliane Brum lançou Meus desacontecimentos , na Flip.

Cacá Diegues num bate-papo com Edu Lobo tocou no patrulhamento ideológico que sofreu para filmar Xica da Silva. Não se pode brincar com a escravidão. Quem disse? Pode-se brincar com tudo. Taí o  Millor. Cacá contou que conseguiu um papel para Cartola num filme seu para ajudá-lo financeiramente. Na Flip lançou a autobiografia  Vida de Cinema – antes, durante e depois do Cinema Novo.Edu Lobo lançou São bonitas as canções, uma retrospectiva de sua carreira.

Vladimir Sorókin foi  o primeiro escritor russo a vir para Paraty. É representante da literatura underground, aquela que foge dos padrões comerciais, fora da mídia. Para ele, a literatura é como um tiro silencioso.Você não escuta, não sente, mas é atingido.O humor, assim como a vodka é necessário para enfrentar a severidade da Rússia, país que está sendo tomado pelo autoritarismo.

A arquitetura mais uma vez foi tema da Flip.O arquiteto Paulo Mendes da Rocha , que preconiza uma arquitetura socialmente responsável, e o critico italiano  Francesco Dal Co conversaram sobre as afinidades entre Veneza e Paraty. As duas cidades foram invadidas pela água, foram de difícil construção mas venceram os desafios . A arquitetura transforma a natureza para ser habitada. É a porta de entrada para uma reflexão sobre a cidade. Toda cidade é feita de conflitos – comerciais, politicos, ambientais, mas são eles que produzem melhorias. Apenas os conflitos mortais destroem cidades, como acontece na Faixa de Gaza.

Gaza, claro, foi abordada  pelo  escritor israelense Etgar Keret, hoje o principal  nome  da literatura de Israel,apresentado como aquele que tem os livros mais roubados nas bibliotecas. Viver  numa região permanentemente em conflito o levou a fazer humor na catástrofe, uma forma de protesto contra a realidade. Nos conflitos, a ficção é uma zona segura .Para ele, é possível sim dividir  por dois um pedaço de terra, de modo vivível. Marcante também na vida de Keret o drama de seus pais  que viveram o holocausto, fazendo com que ele evitasse desde pequeno   causar qualquer tipo de  sofrimento à  mãe. Lançou na Flip – De repente, uma batida na porta.

Dor familiar comoveu a plateia no depoimento emocionado de Marcelo Rubens Paiva durante a mesa de lembrou os cinquenta anos do golpe militar. O escritor estava sob o impacto da voz do pai transmitida num pronunciamento do deputado, feito no dia primeiro de abril de 64.Chorou ao lembrar o drama que a família viveu  com o seu desaparecimento, após tortura e morte  nos porões da ditadura .Falou da luta e transformação de sua mãe,  hoje com Mal de Alzheimer.” Quem realmente combateu a ditadura,  foram  mulheres como minha mãe a a estilista Zuzu Angel “ -disse.

Marcelo Rubens Paiva é cético quanto ao trabalho da Comissão da Verdade no esclarecimento dos casos de pessoa desaparecidas, mas acredita no do Ministério Público. Para ele, as Forças Armadas não se reciclaram, não repudiaram o que aconteceu e existe grupo de tortura ainda articulado no Brasil.

A discussão política esteve presente até quando se falou de comida, com Michael Pollan, para quem na mesa de almoço temos as primeiras lições de democracia e sociabilidade. O autor de Em Defesa da Comida – um manifesto – criticou a política de alimentação nos Estados Unidos, que deveria parar de dar apoio à indústria alimentícia e dar mais atenção à prevenção da saúde. Criticou a indústria de combustível que usa cana- de- açúcar e milho, e em vez de alimentar crianças, alimenta caminhões. Acrescentou que fast-food está para a comida assim como a pornografia está para o sexo. Deu 4 dicas de alimentação para crianças que só comem besteira : que os pais comam alimentos saudáveis diante delas, que as crianças também cozinhem, que  plantem hortaliças e que só haja comida saudável nos armários da cozinha.

A política americana em suas entranhas de corrupção e serviços de espionagem  foi atacada no encontro de Glenn Greenwald, advogado e jornalista,  com o documentarista Charles Ferguson que denunciou os interesses por trás da crise financeira de 2008. Após as denúncias, Snowden   está asilado na Rússia, mas  Greenwald acha que todos os países que se beneficiaram das denúncias de Snowden, como Brasil e Alemanha deveriam recebê-lo. Snowden  denunciou o esquema de espionagem por achar que a grande mídia apoia o sistema corrupto e falho das instituições americanas.

Para Andrew Solomon, autor de livros sobre depressão,  o oposto da depressão é a vitalidade. A depressão é cíclica e  ensina a entender as pessoa e a tolerar o que há de ruim no mundo. Solomon  pesquisou identidades que não correspondem aos padrões sociais mais básicos como autismo, surdez, transexualismo e outros.Defende uma criação e educação que reconheça   essas identidades pelo que são e as ajude a encontrar a autoestima.

Outra frase do Millor – “A Astronomia é o Ph.D. da Astrologia”. O físico e articulista Marcelo Geiser e o professor Paulo Varella falaram de Ciência e Astronomia  de forma clara e até poética sobre os limites do conhecimento científico, sobre a visão do universo e do céu sobre a nossa cabeça. É preciso olhar para cima, para os astros, ( a iluminação da rua não pode ser voltada para cima, mas para baixo ) mesmo que se trate de um céu do passado, porque com a velocidade da luz, o que vemos já passou. As distâncias são tão incríveis que uma viagem interestelar é impossível. O avanço da tecnologia leva ao conhecimento, mas sempre de modo incompleto e limitado. Indagado sobre a influência dos astros na vida dos homens, a Astrologia, Paulo Varella respondeu ao estilo do Millor : “Nós , de Leão, somos céticos em relação a isso”.

Se em quase todas as discussões, podia-se fazer um gancho com a      vida e a arte de Millor Fernandes, na   última a que assisti, parecia que Millor estava encarnado  na Fernanda Torres. –  engraçada, irreverente e provocativa . Fernanda ironizou o fato de seu colega de mesa , o peruano Daniel Alarcon  estar lançando um livro cujo enredo fala de teatro, algo fora de moda.”Sou mais valorizada aqui na Flip como escritora – ator parece não valer nada, mas um autor vale muito”. Romance de Fernanda – Fim e o de Daniel Alarcon – À Noite Andamos em Círculos. Mesmo sob  risos, Fernanda fez uma crítica séria à crise do teatro e do cinema, hoje presos ao entretenimento para sobreviver.

A Flip de 2014 teve uma estrutura diferente, mais simples e barata, sem a grande tenda do Telão, que foi substituída por dois telões ao ar livre, de  acesso gratuito e que funcionaram a contento. O tempo ajudou, sol de inverno gostoso e à noite,  um céu lindão com  lua crescente.

Ruas lotadas, as artes mais variadas nas calçadas,teatrinho  de sombras, ambulantes de livros,  cordel, (poesia cósmica !)  artesanato , muita música, carrinhos de cocada e bolo de mandioca.

Termino  com uma última frase do Millor que eu li na exposição da Casa da Cultura e adorei :  “O bicheiro  morreu de repente deixando mulher, três filhos e o delegado de Polícia totalmente desamparados.”

Passeata no 7 de Setembro 10/09/2013

Posted by Maria Elisa Porchat in Atualidades, Diversos.
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passeataFui à passeata na Paulista sábado, 7   de setembro. Aquela que, segundo as redes sociais seria “a maior manifestação de protesto da História do Brasil”. Eu não poderia ficar fora.

Minha posição: não concordo com os que dizem que a situação nunca esteve tão ruim.Vivi tempos piores.Acho o pessimismo  atual  maior do que o justificado pela realidade.Mas até porque hoje  somos mais livres para reclamar, também quero pôr pra fora minha revolta contra o que eu considero nosso  maior “osso”: a sujeira   no Congresso.

E lá fui eu para  a Paulista no Dia da Pátria, com um lencinho patriótico no pescoço e de branco porque sou da paz. Comodista, não levei cartaz nem faixa, pensando em me integrar num grupo que também estivesse clamando por um país mais ficha limpa.

De imediato, saltou aos olhos a liderança dos mascarados de preto. Eram muitos, tomaram a dianteira da passeata e provocavam os policiais que estavam de prontidão. Num carro de som, um alto-falante ameaçava um confronto com a Polícia caso um deles fosse detido. Depois soube que o confronto aconteceu na região do Centro, com vandalismo na Câmara Municipal.

A presença dos mascarados foi um dos motivos do malogro da passeata  no sábado. O outro foi a  pluralidade de reivindicações, algumas até contraditórias e divergentes. Onde está nessa avenida  a faixa para chamar de minha?  Tinha de tudo: mudanças na maioridade penal, pela redução nos impostos, mais saúde, mais hospitais, pela  educação, pela reforma política, mais democracia,fim do cabine de empregos, fim do voto secreto,revisão de aposentadorias e mais isso e fim daquilo…anseios justos, mas tão diversificados que perdiam força na aglomeração.

Continuei na busca. Queremos a volta do Bingo ( af! ) E a pior : Intervenção militar – contra  a ditadura comunista  ( será que é no Brasil ? )

Finalmente  encontrei  meu lugar na avenida. Ao lado de um casal que carregava todo pimpão uma faixa  enorme : Alagoanos,vomitem o Renan.O Brasil agradece. Pronto. É aqui que eu vou caminhar.

Para mim, os protestos de hoje  deveriam ter como ponto de convergência   a moralização da classe política. E um bom começo é pôr para fora   todo deputado e senador  corrupto. Cada um de uma vez, com muito panelaço, apito e gritaria. Com um Congresso decente, tudo vem em consequência: a aprovação da  reforma tributária,  da política, da fiscal,  mais dinheiro para a saúde, para a educação, para a previdência…

Com liberdade para se manifestar, sem violência nem vandalismo, com esforço concentrado numa reivindicação de cada vez, o povo brasileiro  terá muito mais chance de ser ouvido nos seus protestos. Chance de ter  um Congresso ficha limpa. Um futuro ficha limpa. Onde vai ser a próxima passeata?

Flip 2013 – correção 09/07/2013

Posted by Maria Elisa Porchat in Diversos.
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Uma correção.No post sobre a Flip o nome do arquiteto português é Eduardo Souto de Moura.  Eduardo Coutinho, cineasta,FLIP 2010 também  este na Flip, numa palestra a que eu não assisti.

Recordação do Costa Concórdia 09/04/2013

Posted by Maria Elisa Porchat in Atualidades, Diversos.
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CostaConcordia-2Janeiro de 2010: minha irmã e eu, na excursão Emoções em Alto Mar do Roberto Carlos, a bordo do navio Costa Concórdia. Emoções, aliás, que começaram em maio, no Dia das Mães, quando as filhas me surpreenderam com dois bilhetes para o cruzeiro. As quatro noites superaram a animação dos meses de expectativa: shows de humor, o romantismo do Roberto Carlos, sambão da Beija-flor, caipirinhas, comida boa, amizades novas. O navio, um luxo. Como lembrança, levei a réplica do Costa Concórdia que está na estante da casa na praia.

costa concordia

Janeiro de 2012: o Costa Concórdia nos noticiários, depois de atingir uma rocha no Mediterrâneo, 30 pessoas mortas, duas desaparecidas. Cenas de terror dos passageiros, irresponsabilidade do capitão.

Eu me pus no lugar dos turistas aterrorizados. Pensei no prazer que, como eu, haviam sentido antes da viagem,,  revi naquelas trágicas imagens o luxo do navio, as poltronas confortáveis,o casco gigantesco.

Mais de um ano se passou e o navio continua encalhado num parque marinho nacional, de recifes de coral protegido. Precisa ser removido da área, para ser desmontado, num plano que representa inúmeras dificuldades e um custo altíssimo. Desmontá-lo no local onde se encontra significa um prejuízo enorme para o meio ambiente local.

Acompanho as notícias do acidente do Costa Concórdia com consternação. Faço um esforço enorme para preservar na memória as alegrias e as emoções daquele janeiro de 2010, ao olhar a réplica do navio na minha estante.

O Direito dos Avós 13/11/2012

Posted by Maria Elisa Porchat in Atualidades, Diversos.
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Quase 30 anos depois que meu pai Edgard de Moura Bittencourt morreu, é um orgulho ler uma frase do jurista que foi, encabeçando uma matéria do Estadão, sobre a lei que assegura aos avós o  direito de ver os netos.

Uma lei nesse sentido foi sancionada no ano passado. Antes dela, nas ações movidas por avós, frequentemente era citado seu livro Família, que trata do direito de visita aos netos, entre outras questões de jurisprudência.

Está lá: “A afeição dos avós pelos netos é a última etapa das paixões puras do homem. É a maior delícia de viver”.

“Quando há uma separação, os filhos ficam com um dos cônjuges, que muitas vezes chega a privar seus filhos do afeto dos avós.”

“Muitas vezes manter esse convívio ajuda uma criança a atenuar o vazio sentimental”.

Mas consta no livro a ressalva: “cada caso deve ser examinado com prudência, porque pode haver avós indignos de semelhante faculdade, como também circunstâncias peculiares, que podem justificar a suspensão das visitas. Portanto, é quase dispensável observar que o direito dos avós está condicionado ao interesse da criança”.

Meu pai como juiz e jurista esteve muitos passos adiante do seu tempo. Jovens advogados de família testemunham a importância ainda hoje de seus livros em questões familiares, como o divórcio, concubinato, guarda de filhos, idéias precursoras das mudanças trazidas mais tarde, pelo novo Código Civil.

Saudade de Itanhaém 02/10/2012

Posted by Maria Elisa Porchat in Diversos.
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Quem não frequentou Itanhaém nos anos 60 não consegue imaginar o que aquele ponto do litoral paulista significou para a minha geração que hoje já tem netinhos.

Lá passei quase todas as férias da minha infância e adolescência. Nossa casa, com flamboyans e chapéus de sol, ficava num ponto estratégico: esquina de uma rua do centro histórico e comercial com uma avenida paralela à praia “da frente”. Sentados no muro da pérgula sempre florida, víamos de um lado o morro do convento, a cadeia tombada e o movimento da Prefeitura; de outro, o mar que, bem próximo, se unia ao rio Itanhaém, num encontro ao mesmo tempo atraente e perigoso para os banhistas.

A temporada começava sempre com um ritual: a compra do par de tamancos que fazia barulho nas calçadas e que só deixávamos de usar no último dia de férias. De lá, já íamos matar a curiosidade sobre os amigos que teriam chegado – amigos de outros verões, muitos deles se tornando amigos da vida inteira. Uma só turma se encontrava. Na praia pela manhã, à beira do rio no fim da tarde, nos passeios pela vila e nas serenatas na pérgula, comendo o pão quente da primeira fornada da padaria. Brincadeiras saudáveis, segurança, simplicidade, música, alegria.

Hoje no lugar da nossa casa florida há Casas Pernambucanas sem uma folha de árvore para contar história. As Havaianas (legítimas!) silenciaram as calçadas. As praias estão cheias e sujas. A cidade perdeu o charme e a tranquilidade.  Só a alegria daquela geração não se perdeu. E quando a velha turma se reencontra, em outras praias, o assunto é sempre o mesmo: o privilégio de ter vivido as férias, ano após ano, de tamanco nos pés, em Itanhaém.

Autoestima em baixa nas vitrines 04/09/2012

Posted by Maria Elisa Porchat in A Língua Portuguesa Adequada, Atualidades, Diversos.
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Quase choro de desgosto quando vejo uma loja brasileira anunciar liquidação assim: “Save up to 40% off. Winter special sale”. Gente! Onde nós estamos mesmo?

Assim uma bela loja de cama, mesa e banho atrai o público, nos jornais e nas vitrines, em letras imensas. Não se trata de um caso isolado É só passear pelos shoppings da cidade e constatar que para fazer bonito o lojista prefere usar o inglês nas suas propagandas. No recém-inaugurado Shopping JK, um estabelecimento prestes a abrir suas portas escreveu numa parede provisória: “Opening soon”.

Quando é que o comércio chique no Brasil vai usar a língua portuguesa no lugar do inglês sem medo de rebaixar o status dos seus produtos? É claro que o problema não está na nossa bela  língua. Nem o português fica ameaçado com essa mania boba de se apelar para a língua inglesa para dar um ar de primeiro mundo ao comércio, ou talvez para fazer o consumidor fantasiar que está em Orlando ou em Nova Iorque. O que me dá desgosto é que se trata de mais um sintoma de pouca autoestima do brasileiro.

Adiantaria começar uma campanha para acabar com essa macaquice de língua estrangeira? Não. A mudança de atitude não seria espontânea e acabaria sendo um item a mais na lista das atitudes politicamente incorretas, lista tão ridicularizada por ser desprovida de bom-senso. Pior: poderia acabar num projeto de lei radical no sentido de multar ou incriminar o comerciante que anunciasse a liquidação em inglês.

Campanha nesse sentido também estaria fadada ao fracasso porque os próprios publicitários simpatizam bastante com o uso de palavras estrangeiras desnecessárias na comunicação de propaganda.

O problema é mais profundo. Talvez psicólogos, sociólogos e antropólogos consigam explicar de onde vem o complexo de inferioridade manifestado pelo brasileiro de várias formas, inclusive no comércio de luxo.

Triste é saber que a mudança na linguagem das vitrines é demorada e incerta. Vai depender do progresso do Brasil em vários setores, sendo o da educação o principal deles. Quero crer que quando começarem a surgir índices positivos desse desenvolvimento, não só na economia, mas na saúde, nas instituições de ensino e na diminuição da criminalidade, o Brasil vai fazer bonito não só lá fora, como aqui, no conceito do cidadão brasileiro. Quando isso acontecer, certamente o comerciante de uma loja de luxo não precisará macaquear o lojista americano e anunciará sem acanhamento: “Breve inauguração” ou “Descontos de até 40 por cento”.